quinta-feira, 12 de junho de 2008

Livros que nos ajudam a entender os Contos de Fadas

“A importância dos Contos de Fadas em nossa cultura dificilmente pode ser exagerada. Eles assumiram na época moderna uma função civilizadora , didática e edificante. Histórias como: Cinderela, Branca de Neve e a Bela e a Fera, entre muitas outras hoje difundidas pelos meios de comunicação de massa, foram aceitas como parte de um tesouro comum e ajudaram a consolidar um universo de mitos partilhado por pessoas das mais diversas idades e experiências. Bastaria isso para recomendar sua leitura.”

Da Fera à Loira – Marina Warner
Sobre Contos de Fadas e seus Narradores

“Pelo menos desde o Romantismo, os contos de fadas têm sido comumente entendidos como narrativas, imutáveis, puras, que resistiram ao tempo e se transmitiram pela tradição oral através das gerações. Essa visão, que se poderia chamar de arquetípica, tende a interpretar os contos no horizonte de uma mesma experiência humana, supostamente constante , a que se poderiam afinal reduzir as diversas tradições literárias e culturais dos povos. A essa mesma tendência se soma a leitura psicanalítica dos contos de fadas, interessada em revelar o seu sentido mais íntimo e universal. Sob o véu dos mitos, do maravilhoso e do mostruoso, tão freqüentes nesses contos, a psicanálise procurou apontar o conflito das pulsões e o drama dos sentimentos próprios à natureza e à sociedade humana.
Apesar de reconhecer os méritos e as contribuições da leitura arquetípica e psicanalítica dos contos, a autora Marina Warner propõe ao leitor uma abordagem nova e surpreendente, que esclarece aspectos fundamentais negligenciados pela tradição crítica. Trata-se de apontar a genealogia e os contextos históricos dos contos de fadas, que constituem o pano de fundo em que eles se movem e se transformam. O realismo histórico desses contos, como nos mostra a autora , foi obscurecido desde que o francês Perrault e outros grandes autores do século XVII e XVIII definiram as características modernas do gênero. Os contos de fadas foram então domesticados e adaptados para o uso infantil, e é, sob essa forma particular que ainda hoje são habitualmente recebidos.
Com seu foco na representação da figura feminina (seja ela uma personagem ou a voz de uma narração), o livro reexamina a misoginia de alguns dos mais célebres contos de fadas e, a partir deles, toda a história conturbada desse gênero e de suas muitas possibilidades expressivas, ainda hoje abertas à criação. Desde suas remotas origens na Antigüidade e no oráculos das Sibilas, passando pelos contos que celebrizaram uma imagem cruel da mulher (nas figuras da bruxa, da madrasta) e também do homem (no caso notório de Barba Azul), os leitores acompanham uma historiadora capaz de desvelar não apenas os mitos que cercam essas narrativas e que, sorrateiramente, costumam guiar a nossa compreensão.”


Mulheres que Correm com os Lobos – Clarissa Pinkola Estés
Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem.
“Os lobos sempre rondaram o universo da psicóloga junguiana Clarissa P. Estés em sonhos ou mesmo na vida real.
Ao estudar esses animais, ela observou várias semelhanças entre a loba e a mulher, principalmente no que se refere à dedicação aos filhos, ao companheiro e ao grupo. Ao longo do desenvolvimento da civilização, porém, esses instintos mais naturais a que a autora dá o nome de Mulher Selvagem, foram sendo domesticados, sufocando todo o potencial criativo da alma feminina.
Clarissa, além de analista junguiana é Cantadora , ou seja, Contadora de Histórias . Ela mostra no livro como, a partir de mitos, contos de fadas, lendas do folclore e outras histórias, a mulher pode se ligar novamente aos atributos saudáveis e instintivos do arquétipo da mulher selvagem.”


A Psicanálise dos Contos de Fadas - Bruno Bettelheim
Neste livro o autor Bruno Bettelheim faz uma radiografia das mais famosas histórias para crianças, arrancando-lhes o seu verdadeiro significado.
“Os contos de fadas considerados por pais e educadores até pouco tempo como “irreais”, “falsos” e cheios de crueldade, são, para as crianças, o que há de mais real, algo que lhes fala, em linguagem acessível, do que é real dentro delas. Os pais temem que os contos de fadas afastem as crianças da realidade, através de mágicas e fantasias. Porém, o real, a que os adultos comumente se referem, é o externo, é o mundo circundante, enquanto que o conto de fadas fala de um mundo bem mais real para as crianças. E deixa isso bem claro quando situa as histórias na “Terrra do Nunca”, ou no “Era uma vez um país muito longe”..., ou “Numa época em que os bichos falavam”, evidenciando, assim, que não se trata do aqui, nem do agora da realidade adulta, mas de um território fora do tempo e do espaço.
Durante muito tempo, os contos de fadas ficaram esquecidos, desprezados e banidos sob a alegação de irreais e selvagens, em vista de suas tramas sempre altamente dramáticas. Depois que a psicanálise desmitificou a “inocência” e a “simplicidade” do mundo da criança, os contos de fadas voltaram a ser lidos (e discutidos), justamente por descreverem um mundo pleno de experiências, de amor, mas também de destruição, de selvageria e de ambivalência. A psicanálise provou que, na verdade, os pais temem que os filhos os identifiquem com bruxas e monstros, ogros e madrastas e, em conseqüência, deixem de amá-los. Porém, ao contrário, podendo vivenciar tudo, identificando-se com os personagens, os filhos têm sua agrssividade diminuída, podendo amar os pais de maneira sadia.O conto, assim, contribui para um melhor relacionamento familiar, desmanchando as fontes de pressão agressiva que, caso contrário, seriam dirigidas aos pais. Mas a maior contribuição dos contos de fadas é em termos emocionais, propondo-se e realizando concretamente quatro tarefas: fantasia, escape, recuperação e consolo. Desenvolvem ainda a capacidade da fantasia infantil; fornecem escapes necessários falando aos medos internos das crianças , às suas ansiedades e ódios, seja como vencer a rejeição (como João e Maria) , ou a rivalidade com irmãos (Cinderela), ou conflitos com a mãe (como Branca de Neve) ou sentimentos de inferioridade (As Três Penas).
Os contos aliviam as pressões exercidas por esses problemas; favorecem a recuperação, incutindo coragem na criança, mostrando-lhe que é sempre posível encontrar saídas. Finalmente, os contos consolam e muito: o “final feliz” que tantos adultos consideram falso e irreal é a grande contribuição que os contos fornecem à criança, encorajando-a à luta por valores amadurecidos e a uma crença positiva na vida.
O livro mostra as razões , as motivações psicológicas, os significados emocionais, a função do divertimento, a linguagem simbólica do inconsciente que estão subjacentes nos contos infantis”.

2 comentários:

Claudia Pimenta disse...

mulheres que correm com os lobos é um livro excepcional! realmente inspirador e, acima de tudo, mostra o feminino de uma forma emocionante! foi um dos mais belos presentes que já ganhei... de você, mãe! bjs!!!

Tania Pimenta disse...

Dos três, ainda não li "Da Fera à Loira", mas quero muito ler.
Os outros dois são fantásticos!
Beijins

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