sábado, 26 de julho de 2008

Minha avó, meu tesouro

Hoje, 26 de julho, é considerado o dia da avó, talvez porque seja o dia de Sant´Ana, avó de Jesus.
Quero então prestar minha homenagem àquela que tem sido minha inspiração na vida.
Minha avó Carolina (a Nenzinha)
Infelizmente só tenho esta foto dela.



Carolina, a Nenzinha, que para mim é, sem sombra de dúvida, a mulher mais forte e valente da família. Imagine uma mulher nos idos de 1910, mandar o marido embora e cuidar sozinha dos filhos, essa foi a sua grande coragem. Com isso passou a ser a ovelha negra da família, mas não se intimidou. Cuidou dos filhos fazendo crochê e camisas para homens. Vendendo seu trabalho, conseguiu educar os filhos. Quando minha mãe casou, ela foi morar na casa dela e, juntas, bordavam e costuravam para fora. Meu pai trabalhava no jornal “O Correio da Manhã” como chefe das oficinas, e era um boêmio. Meu tio, Ernesto, tinha uma casa de bordados no centro do Rio, “O Rendeiro”, e não ligava para minha avó. Esta mulher sofreu a pior das dores na vida quando minha mãe, depois de tentar por dez anos engravidar, finalmente ficou me esperando e, por ironia do destino, na hora do meu parto ela não quis ir para o hospital porque dizia que o avô dela vinha buscá-la (não sei se isso era folclore da família ou verdade). Teve uma grande hemorragia e nada pôde ser feito, ano de 1941 e a medicina ainda não era tão avançada, as mulheres costumavam contar mesmo com a ajuda de parteiras na hora da dar à luz. Imagino o que minha avó sofreu, pois além de perder a filha, perdeu também a neta, já que minha mãe me entregou para ser criada por Áurea, tia dela e irmã mais nova de minha avó, e com uma prole de cinco filhos. Talvez minha mãe quisesse que eu vivesse numa família grande, não sei, mas avalio o que vovó sofreu com estas duas perdas, visto que ela ficou morando no Rio, em Vila Isabel, onde nasci, na rua Gonzaga Bastos, e eu vim para Niterói no dia seguinte. Nunca vi esta mulher sofrendo, muito pelo contrário, sempre trabalhando nas costuras e nos crochês, que era como pagava o quarto em que foi viver na casa de uma amiga, Natalina. Quando eu ia lá, fazia bifes de filé mignon e sonhos, viveu lá até esta morrer. Foi depois para a casa de uma amiga de minha mãe. Já no final da vida, com 93 anos, morou com Célia, sua sobrinha. Esta não era lá grande amiga, mas cuidava dela. Só que minha avó não era fácil e, um dia, quando estava sozinha em casa, trepou em um banco para pendurar roupa na corda e caiu. Este tombo resultou no fêmur fraturado e, infelizmente, por um erro médico, ela se foi aos 97 anos. Eu estava chegando em Brasília, quando recebi a notícia de sua morte, em julho de 1971. Tenho muita tristeza de não ter sido mais amiga e companheira da minha avó que eu tanto amava. Quando ela vinha para Niterói, era só festa. Trazia para mim camisolas, roupinhas, calcinhas, enfim, coisas lindas que ela fazia. Além dos presentes, me deixava extasiada de vê-la ao piano tocando para mim, mesmo com artrose nos dedos. Era a pessoa mais linda, sempre muito arrumada, com saias de seda preta ou marinho e blusas de cambraia que ela fazia, e as golas eram sempre de crochê. No cabelo usava duas travessas. Andava já muito torta por causa de uma escoliose, a qual eu e duas de minhas filhas herdamos. Não tomava remédios alopatas, só homeopatia. Tinha uma memória fantástica até o fim dos seus dias, sabia quando eu ia lá e quando eu telefonava ficava radiante. Tenho consciência hoje que não fui uma boa neta, mas em virtude da minha criação não tinha como viver junto dela porque a família a rejeitava. Ia muito vê-la, principalmente depois que casei.Quando fui morar em Belém do Pará, por 2 anos, ela ficou muito triste. Quando vinha ao Rio ia logo à casa dela matar a saudade, contar as novidades. Ela teve o privilégio de conhecer ainda duas de suas bisnetas. Sempre levava as meninas para ver a bisa, ela ficava eufórica. Pelo menos teve essa felicidade, pois do outro neto ela nem falava, porque ele não a procurava. Essa mulher foi uma valente, na acepção da palavra. Queria eu poder ter um mínimo da coragem dela e da sua valentia, como enfrentrou as tristezas por que passou e tão bem as superou. Nunca perguntei o porquê da minha mãe ter feito o que fez, até mesmo meu pai ficou sem mim e foi morar com a minha avó Ismênia (portuguesa), mãe dele, e acho que nunca cogitou ficar comigo. Minha impressão é que minha mãe achava que ele podia casar-se com uma das primas, pois todas eram solteiras quando eu nasci. Vi muito pouco esse pai, ele só ia me ver aos domingos e, às vezes, tinha que levar puxão de orelha porque sumia. Acho que minha mãe quis o melhor para mim, mas foi muito difícil, e, ainda é, entender e digerir toda essa história do meu nascimento.
Mas se há alguém inesquecível na minha história, é, sem dúvida, essa AVÓ com maiúscula que sempre me deu bons conselhos e coragem nas horas difíceis. Dona de uma sensibilidade tão grande que quando eu chegava para vê-la, se eu estivesse com algum problema, ela logo perguntava o que era e me ajudava a resolver com seus conselhos não muito ortodoxos!!!!Era uma mulher moderna e tinha sempre comentários sobre tudo que ouvia ou via. Era para a época um pouco "fofoqueira", mas muito engraçada nos seus apartes!
Vó, que um dia encontre você onde estiver ou, talvez, como dizem...tão perto de mim, como filha!!! Eu acredito.

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5 comentários:

Anônimo disse...

Meu deus, q vontade de conhecer essa avó, tão maravilhosa, porém vc deve ter merecido depois de tudo q aconteceu no seu nascimento, mas hoje, tudo passou e vc está lá ajudando às nossas avós da convívio. É lindo seu trabalho não canso de dizer. Beijo

Nina disse...

Marisa, vc fala que não foi uma boa neta,imagina, é claro que foi. e a sua vó sabia disso, dai tanto carinho por vc ela ter demonstrado.

todas as suas lembranças dela, as roupinhas que ela usava, a sua força, perseverança em continuar a luta, faz de vc uma boa e observadora neta. dá uma saudade não dá?!

mas assim é a vida. e tbm acredito que um dia encontraremos nossas avozinhas queridas de novo. eu tbm acredito!

SGi/Sonia disse...

Bom dia Marisa!

Vou começar me apresentando:
meu nome é Sonia, visito a Tânia com freqëncia e ela me convidou a vir te conhecer, como estava fora e cheguei no domingo, hoje resolvi começar as visitas do dia por aqui, já fui na sua "lojinha" e me sentei agora aqui na sua sala de estar...
Me senti tão a vontade...
Que delicia de vó, que delicia os detalhes que você nos deu.

Virei sempre, não baterei palmas ou campainha, me sentarei e terei bons momentos.

Obrigada pela boa leitura.

Beijins
Sonia

Flávia disse...

Marisa
Que bom foi receber sua visita na minha casa. Confesso que fiquei lisonjeada em ser indicada pela sua filha. Ela é uma gracinha de pessoa.
Mas minha fase não é fácil e sei que passa, a questão é: em quanto tempo? Resposta difícil né?
Adorei seu canto e suas "obras" são lindas. Vc está de parabéns.
Ah, vou estar colocando um link do seu blog na minha página. Espero que não se importe.
Bjs

Carla Rosso disse...

Marisa,que história mais encantadora! Me emocionei muito.
Moro com vovó e sei como deve ter sido difícil para você ficar sem ela.
Quer coisa melhor que cheiro e abraço de avó? Não têm!
Tenho certeza que você foi sim uma boa neta para ela. Estar perto nem sempre é sinal de amor, de apego. Você não precisava estar ao lado dela para ela sentir que você a amava!
Eu fiquei mesmo é com muita vontade de dar uns cheirinhos em sua vovó!

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